Romualdo Freitas é sertanejo de Arcoverde. Teatro e dança, artes em geral, sempre lhe atraíram. Tanto, que nos anos 80 ingressou na Troupe Teatral Espantalho de sua cidade e começou também, a se interessar pelas pesquisas de arte tradicionais nordestinas. Aprendeu danças em diversas oficinas, entre elas, as de Alexandre Macedo e Arruda Conrado. Criou o Balé Farra Faceira de Arcoverde e ainda montou um espetáculo. Desde então não parou. Xaxado é uma das suas paixões.
Em Tuparetama, cidade do Sertão Pajeú, montou várias oficinas em parceria com Fabian Queiroz. E foi aí, que surgiu a Companhia de Danças Populares de Tuparetama, a de Buíque e depois a de Petrolina. Ampliou seus ensinamentos para os Estados de Rio Grande do Sul, São Paulo e Acre, onde mora atualmente levando a cultura nordestina. Ali, idealizou o Grupo de Danças do Projeto Beija Flor. Os acreanos – diz – absorvem bem a nossa cultura, principalmente do Ceará de onde foram os soldados da borracha utilizados na exploração do látex. Então, para aceitar o Xaxado foi fácil. Entretanto, pratica-se muito pouco e como em qualquer outro lugar do país, a exceção do Nordeste, tudo vira forró.
Nas oficinas de Xaxado, a dança preferida dos cangaceiros, Romualdo destaca seu aluno mais famoso, Karl Marx, que faz o papel de Lampião, no Grupo de Xaxado Cabras de Lampião, de Serra Talhada, criado por sua família. A coreografia é praticamente a deixada por ele.
Para Romualdo que pesquisa dança e arte, o Xaxado é um resultado de um misto de diversas manifestações das culturas e dos povos e não criação de uma pessoa. E lembra a semelhança entre os movimentos dos pés que existe entre o Xaxado e o Toré, dança das várias tribos indígenas da região. (Aliás, essa origem, é defendida por Luiz da Câmara Cascudo, respeitado folclorista potiguar). Nessas oficinas, adotamos nomes para alguns passos já utilizados Sertão à fora e terminaram sendo referências na dança, a exemplo de “Ataque”, “Recuo”, “Vitorioso” , “Miudinho” e “Corta-jaca”…
O mais relevante na questão Xaxado em Pernambuco, é o fato do interesse que ele deflagra o fenômeno da dança como manifestação da identidade sertaneja, principalmente em Serra Talhada e cidades do seu entorno, tenha se dado por conta do surgimento das Cabras de Lampião, que irradiou um sem número de grupos extrapolando, inclusive as fronteiras estaduais. No entanto, criou-se uma reprodução estética e dramatúrgica que talvez careça de um olhar inovador. Unir tradição e modernidade deixando de ser um tema para academia e incorporando-se de verdade no resultado final das produções artísticas que beijam o popular e o tradicional.
Afinal, o que é mesmo o grupo de Xaxado tradicional formado por cangaceiros? Existe? Somos bem aplicados no nosso processo de preservação e valorização da memória, mas somos os que brincam de carnavalizar e espetacularizar as tradições. Mas, com um pé na modernidade.
Romualdo esteve recentemente em Arcoverde participando de mais uma oficina de teatro e dança.
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