A primeira “Maria Bonita” da nova versão deste blog é Cleonice Maria Souza. Uma sertaneja de Serra Talhada nascida no Alto do Umbu no dia 12 de março. Desde pequena prestava atenção aos irmãos que dançavam em casa o Xaxado repassado pelas gerações da família. Ao mesmo tempo ouvia as histórias do Cangaço, Lampião, Maria Bonita, Corisco, volantes e tudo mais. Um dia, a menina Cleonice surpreendeu a todos saindo dançando Xaxado com desenvoltura de adulto, gingado próprio e ainda fez variações.
Na adolescência participou de peças de teatro da Igreja Católica, fez teatro de rua, atuou em espetáculos convencionais, militou no MST, mas o Xaxado era sua paixão maior. Conversou com ex-cangaceiros sobre a dança e rastreou o chiado das chinelas pelo chão batido por onde os cangaceiros xaxaram. Criou passos, deu nomes a eles, pesquisou a música, a poesia, as letras etc. E veio a grande decisão: criar uma escola de Xaxado em Serra Talhada. Reuniu moças e rapazes, pacientemente ensinou passo a passo da dança e percebeu o entusiasmo da turma. Pouco depois, estava criado o Grupo de Xaxado Cabras de Lampião estreando no dia 25 de março de 1995. Sucesso total. Ela mesma fazia o papel de Maria Bonita durante cinco anos.
Cleonice é simpática, de riso fácil, tipo caboclo, mignon, com traços indígenas, pele mais queimada que bronzeada pelo sol do Sertão. Bonita e inteligente. A dança dos cangaceiros mudou sua vida completamente: fundou ainda a Escola de Xaxado Virgolino Ferreira, que cresceu e tornou-se o Projeto Ponto de Cultura Cabras de Lampião. E vieram os convites para apresentações em outras cidades, outros Estados e até em festivais de dança no exterior. Sempre com aplausos. A sincronia e variedade dos passos impressionam. As roupas são cópias do bando de Lampião.
Casada, dois filhos, administra ao lado do marido Anildomá Willians de Souza (seu grande incentivador) e do filho Karl Marx, o Museu do Cangaço, o Sítio Passagem das Pedras, onde nasceu virgolino, na zona rural. O segundo filho Sandino faz parte do grupo de Xaxado. O casal trabalha na elaboração e execução de festivais de música do Cangaço, Encontro Nordestino do Xaxado, Tributo a Virgolino e por último, a Celebração do Cangaço – O Massacre de Angico, espetáculo ao ar livre que estreou no ano passado.
Cleonice é um exemplo de mulher dinâmica à frente do comando de tudo e, surpreende pela aparência frágil. E ainda cuida ainda das tarefas domésticas.
Ela mesma se define forte como uma baraúna (árvore da caatinga) e confessa ter se espelhado em Maria Bonita, de Lampião que soube encarar a vida diante das dificuldades enfrentando os desafios e caminhos tortuosos da vida. “Sou feliz porque faço o que gosto”, confessa.
O trabalho de Cleonice além de pioneiro deixou ramificações. Hoje existem várias escolas e grupos de Xaxado na região nordestina.
Cleonice é uma Maria Bonita.
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