CABEÇAS DECAPITADAS

ago 18, 2019 | 0 Comentários

Dia 31 de julho de 1938, por volta das 10h deu entrada no Instituto de Medicina Legal de Maceió, a cabeça decapitada de Maria Bonita para ser analisada à luz da ciência, sua tendência para o crime. Ou seja, o perfil antropológico traçado pelo médico legista Lages Filho. A de Lampião também. Nenhuma tendência lombrosiana foi encontrada no casal mais famoso do Cangaço.

Essas cabeças foram transferidas para o Instituto Nina Rodrigues, em Salvador e ali ficaram em exposição até 1969, para apreciação pública…até serem enterradas no cemitério de Aracaju. família Ferreira conseguiu a transferência.

Enquanto estiveram em Salvador, a curiosidade era grande. Aurélio Buarque de Holanda descreveu bem em 1995 a reação dos visitantes:

“ Desenrola-se o drama. O trágico se confunde com o grotesco. Quase nos espanta que não haja palmas. Em todo caso, a satisfação da assistência traduz-se por alguns risos mal abafados e comentários algo picante, em face do grotesco. O trágico, porém, não arranca lágrimas. Os lenços são levados ao nariz: nenhum aos olhos. A multidão agita-se, freme, sofre, goza, delira. E as cabeças vão saindo, fétidas, deformadas, das latas de querosene -as urnas funerárias -, onde o álcool e o sal as conservam, e conservam mal. Saem suspensas pelos cabelos, que, de enormes, nem sempre permitem, ao primeiro relance, distinguir bem os sexos. Lampião, Maria Bonita…”

Enterradas, mas até agora, 81 anos depois, o casal permanece mito.

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