Sobre
“Acorda, Maria Bonita, levanta e vem fazer café…” Escutava com assiduidade a musiquinha na minha meninice em Triunfo, Sertão de Pernambuco, a minha cidade. E, diante da curiosidade infantil, ficava a perguntar a mim mesma quem era essa Maria dorminhoca que precisava ser despertada para fazer o café. Mais adiante, ainda menina, ouvindo as histórias do Cangaço, fiquei sabendo que a Bonita era a mulher de Lampião. Entendi a história pelo meio, ficou faltando um pedaço.
Já adulta, formada em jornalismo e morando em Recife, fui trabalhar exatamente numa editoria regional e fatalmente iria me deparar com fatos nordestinos. Cangaço, certamente, não seria uma notícia fora do contexto. Em 1991, houve um plebiscito em Serra Talhada, terra de Virgolino Ferreira, em torno de uma pergunta: Lampião era herói ou bandido? Dependendo do resultado, ele teria uma estátua de 30 metros de altura na sua cidade. A maioria votou que ele teria sido um herói, mas a estátua ainda não foi erguida. E ele não foi herói nem bandido, mas sim, história.
Diante de tão importante acontecimento, comecei a ler mais sobre o Cangaço. Fiquei tão deslumbrada que me apaixonei pelo tema. Fiz inúmeras reportagens, e Maria Bonita passou a ser uma figura de minha admiração. Com a proximidade do seu centenário de nascimento, decidi escrever sobre essa mulher tão corajosa, tão desafiadora no seu tempo, que rompeu paradigmas, virou musa, mito e fonte de inspiração até hoje.
Pesquisar sobre a mulher do Capitão talvez tenha sido a minha maior dificuldade profissional. As imprecisões, as contradições da sua vida passaram a ser um desafio. Como “sequenciar” a vida dessa Maria sobre quem pouco se sabe? Foram dois anos e meio de pesquisas, viagens, entrevistas, consultas em livros e jornais da época. O resultado está no livro “A Dona de Lampião” e continua aqui nesse blog com outras Marias. Outras “Mulheres do Cangaço”